Consciência fonológica: relação com a aprendizagem da leitura e da escritaConheça a evolução das capacidades e reações auditivas do seu bebé desde que nasce até aos 4 anos de idade. Por Drª Lúcia Magalhães, Terapeuta da Fala.
Desde o nascimento, o bebé está exposto a uma grande variedade de estímulos sonoros, necessitando de um sistema auditivo e neurológico íntegro para ser capaz de receber, percecionar, discriminar e processar os sons (Sim-Sim, 1998).
- Inicialmente, o recém-nascido começa por assustar-se perante um som muito forte.
- Aos 3 meses, responde à voz ou som suave.
- Dos 3 aos 6 meses, orienta a cabeça para a voz da mãe e em direção a uma fonte sonora.
Progressivamente, a criança desenvolve discriminação auditiva, definida como a capacidade para detetar a presença do som e distingui-lo de outro diferente (Sim-Sim, 1998).
O bebé começa a reagir preferencialmente a sons da voz humana, a reconhecer e distinguir vozes, particularmente a da mãe, e mais tarde, é capaz de distinguir sons (ex: “ba” ? “pa”).
- Dos 9 meses aos 13 meses, a criança compreende o significado de sequências de sons em contexto, começando a responder a questões do tipo “Onde está o cão?” ou “Dá a bola”.
- Por volta dos 36 meses de idade, a criança é capaz de discriminar todos os fonemas da sua língua, iniciando o desenvolvimento da consciência fonológica.
- Por volta dos 3-4 anos a criança discrimina os sons da respectiva língua materna e apresenta sensibilidade às regras fonológicas da mesma.
O que é e qual a importância da consciência fonológica?
A consciência fonológica refere-se a uma capacidade metalinguística para identificar e manipular os fonemas ou sons que constituem a língua materna.
Representa uma capacidade complexa em que a criança começa a identificar e a refletir que o discurso é constituído por um conjunto de frases, e que estas podem ser segmentadas em palavras, as palavras em sílabas e as sílabas em unidades mínimas, ou seja, os fonemas (Freitas, Alves e Costa, 2007).
Segundo Suehiro (2008 cit in Ferraz, 2011), a consciência fonológica pode ser dividida em três capacidades que operam ao nível da:
- Rima e da aliteração (repetição da mesma sílaba ou fonema no início da palavra).
- Sílaba (consciência silábica).
- Fonema (consciência fonémica).
Em termos de fases de desenvolvimento
- Dos 3 aos 4 anos, a criança identifica rimas e aliterações.
- Aos 4 anos, realiza a divisão silábica de palavras com 2/3 sílabas.
- Por volta dos 5 anos de idade, começa a operar ao nível do fonema, identificando sons em palavras.
- Aos 6 anos, a criança é capaz de realizar a maioria das atividades, embora persistam algumas lacunas relativas à consciência fonémica que só serão colmatadas aquando da aprendizagem da leitura e da escrita (Ferraz, 2011).
O desenvolvimento da consciência fonológica encontra-se intimamente relacionado com a aprendizagem da leitura e da escrita, pelo que se salienta a importância de promover estas competências até à entrada no 1º ciclo, como forma de prevenir dificuldades futuras no processo de aprendizagem da associação grafema-fonema (leitura) e fonema-grafema (escrita) (Sim-Sim, 1998).
No entanto, nem todas as crianças têm a oportunidade de adquirir e desenvolver estas competências, ocorrendo lacunas significativas que poderão passar despercebidas ao nível do pré-escolar, sendo identificadas tardiamente aquando do ingresso no 1º Ciclo de escolaridade.
É nesta altura que podem emergir as perturbações ao nível da leitura e da escrita que assumem repercussões a variados níveis, nomeadamente no sucesso académico, na motivação pela realização das tarefas escolares e das aprendizagens académicas, na socialização e na aceitação dos pares.
Assim sendo, recomenda-se que pais, cuidadores, educadoras de infância e demais profissionais que acompanham a criança estejam sensíveis para um conjunto de sinais de alerta, a fim de que o encaminhamento e a atuação por parte do terapeuta da fala surjam o mais precocemente possível e, principalmente, antes do ingresso no 1º Ano de escolaridade.
Sinais de alerta
Pré- Escolar:
- Fala tardia.
- Linguagem “à bebé” persistente.
- Palavras mal pronunciadas para além do esperado para a idade.
- Dificuldade em acompanhar e decorar canções, rimas e lengalengas.
- História familiar de fala tardia ou alterações ao nível da linguagem e/ou da fala.
1º Ano de escolaridade:
- Dificuldade em discriminar os sons da língua (ex: quando a criança ouve “faca” e “vaca”, não identifica diferenças).
- Dificuldade na divisão silábica e fonémica.
- Dificuldade em associar as letras aos seus sons e vice-versa (ex: a letra F lê-se “éfe”).
- Dificuldade na leitura de sílabas e palavras, sobretudo palavras novas ou mais complexas.
- Dificuldade na escrita (erros de escrita).
Referências bibliográficas:
- Ferraz, I. P. R. (2011). Consciência Fonológica - Uma competência linguística fundamental na transição do Pré-Escolar para o 1º Ciclo do Ensino Básico. Dissertação de Mestrado, Universidade da Madeira, Portugal.
- Freitas, M. J., Alves, D. & Costa, T. (2007). O conhecimento da língua: desenvolver a consciência linguística. Lisboa: Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular.
- Sim-Sim, I. (1998). Desenvolvimento da linguagem. Lisboa: Universidade Aberta.
Drª LúciaMagalhães, Terapeuta da Fala - Colaboradora Mãe-Me-Quer
Última revisão: 17 de outubro de 2013
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